outubro 11, 2005

E-mail: Noémia (nome fictício para ninguém gozar com a rapariga)

Querido Nilson
Aconteceu uma coisa inacreditável comigo. Preciso que me socorras rapidamente para que não enlouqueça. O meu patrão, que me anda a assediar há vários meses, hoje não veio trabalhar. O meu gabinete é bem ao lado do dele, porque, como sabes, sou a sua secretária. Ele tem uma casa de banho privativa e nós, o resto da maralha, tem uma ao fundo do corredor, normalmente suja, mal cheirosa, para os dois sexos e decorada nas portas com palavrões e frases standard a preceito. A meio da manhã, quando estava a arrumar uma papelada no gabinete dele, fiquei com uma vontade enorme de fazer xixi. Deu-me a preguiça de ir lá fora e fui ao WC do QUERO-POSSO-E-MANDO. Entrei e estava tudo limpinho, a cheirar a lavanda. Fiz o meu xixi mas logo de seguida tive uma vontade irrefreável de fazer cocó. Nada demais, não é? Todo o mundo tem destas necessidades fisiológicas. Demorei bastante e fiz um cocozinho descomunal, mas de cabrito (tenho prisão de ventre crónica e raramente faço cocó). Mas lá fiz tudo, levantei-me e carreguei no autoclismo. Ia a fechar a tampa e vi que o cocó continuava lá. Carreguei outra vez e nada. As bolinhas teimosas permaneciam lá. Repeti várias vezes e o cocó de cabrito mantinha-se firme, a flutuar, num boiar tremulante sem dar mostras de querer sair dali. Comecei a ficar desesperada. Imagina amanhã ele a entrar na casa de banho e o cocó sobrenadante ali a olhar para ele. Serei eu a acusada, já que ali ninguém mais entra. Aí ele vai-me cobrar com juros e vai refinar no assédio (a gaja já está no papo, já entra aqui e agora também vai ter que entrar nas quentes, pensará ele). Em desespero de causa resolvi então atafulhar a sanita com papel higiénico, que se esgotou, para ver se ia tudo de enxurrada. Foi tudo para baixo, mas o irremovível cocó, quais bolinhas de naftalina acastanhadas, ficou lá, imperturbável. Continuava a dançar à tona como que a troçar de mim. Desisti. Mas, subitamente, à custa de ter aprendido alguma coisa com a tentativa do papel, veio-me à mente um plano infalível. Voltei lá e despejei todos os pensos que tinha na carteira. Respirei fundo, rezei três Avé Marias e accionei o autoclismo. Não resisti e comecei a chorar. Sabe o que aconteceu? Entupiu tudo e a sanita ficou a transbordar. Os pensos lá no fundo a tapar o buraco. As bolinhas cá em cima, mais visíveis que nunca. Todas a olharem para mim numa incriminação humilhante, qual bomba relógio a explodir amanhã. Fui para a secretária e disse para mim mesma: Porque é que estas coisas só acontecem comigo? No ecrã tinha várias mensagens do Zé:
15:25 – Ok, então logo vamos ao cinema… compro os bilhetes?
15:35 - NOÉMIA, onde te meteste? Porque paraste de responder????
15:45 - Será que foste cagar? Ao menos podias ter avisado…!!!! Foska-se…!!!
16:12 - Respondes ou não? Deves estar mesmo a cagar…!!!
16:25 – Eu sei que estás aí… responde. Já vi uma vaca a parir mais depressa.
E eu sem poder responder (se o fizesse diria que sim, que estava na casa de banho do chefe a cagar? Não podia, não é?).
Ou será que ele já sabe de alguma coisa?
E é por isso que te pergunto: o que é que eu faço? Responde-me depressa.
Beijos da amiga Noémia

O Nilson pede a nossa ajuda, pois não sabe o que responder à amiga Noémia !

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