20º
Fragmentos de paixão
Olhava a parede onde traços incertos e garridos deixavam expressa a raiva de quem não conseguia encontrar o caminho. No gélido chão de Inverno deixava correr os minutos à tua espera. Uma torrente de sentimentos aflorava na pele pronta a explodir de paixão. Sentia a frieza do vazio a percorrer o sangue que me inundava desde a noite em que o nosso amor se tornou em fragmentos dispersos, estilhaços de duas vidas perdidas numa matéria sem consistência. Uma luta inglória contra a solidão que se agarrou ao meu peito como um íman atroz. Ouço em transe os murmúrios que a tua boca já não sussurra. Adivinho o gesto que as tuas mãos desenhavam nas minhas coxas na madrugada em que dócil despertava só para ti! E os lábios esmagam beijos ardentes no livro das lembranças escrito em prosa que abri dentro de mim! Sinto a loucura chegar em risos selvagens que apagam a preeminência de um amor agora moribundo. Deito-me no soalho gasto, onde os ruídos se acumulam. Fecho os olhos numa lenta agonia. Transformo o meu corpo em ausência…braços estendidos em sinal de espera.
Erguem-se teias de aranha que não quero quebrar e entro vazia na escuridão da noite.
Por: C Marques
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