março 06, 2007

24º
A torrente de fragmentos de memória, em luta constante naquele lugar perdido entre a consciência e a inconsciência, inscreve-se em sangue e dor, ganhando preeminência entre os pensamentos difusos. Os reflexos errantes do que foi e do que poderia ter sido, esmagam os risos e até o gesto mais simples esbarra na frieza da matéria, no chão frio das recordações perdidas. Para além do que recorda agora, a prosa sibilina e soluçada do passado perde pedaços com o tempo que passa. Os traços deste Inverno deixam marca. É difícil perder a fé num frio assim. E em sonhos, por entre os lábios quase cerrados, da sua boca saem murmúrios de preces pelo futuro. É preciso segurar o que foi, porque parte perdida não é parte alguma e é no íman da paixão passada que se deixa desaguar, dócil. Dobra o corpo numa posição fetal, aquece as mãos geladas entre as coxas e, por fim, recolhe em sonhos os pedaços perdidos do que foi e do que é, para continuar a ser.
Por: Hipatia

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