abril 19, 2007

Uma crónica corajosa

"Não quero aqui ninguém. Quero ficar sozinho a medir isto, a minha doença, a minha mortalidade, o meu espanto. Por mais que repetisse - Um dia destes não acreditava que um dia destes chegasse. E agora, Março de 2007, veio com a brutalidade de uma explosão no peito. Não imaginava que fosse assim, tão doloroso e, ao mesmo tempo, tão pouco digno como a velhice e a decadência. Tão reles. O olhar de pena dos outros, palavras de esperança em que não têm fé, dúzias de histórias de criaturas que passaram por isso que tu tens agora e estão óptimas."

"O cancro ratando, ratando, injusto, teimoso, cego. Mói e mata. Mata. Mata. Mata. Mata. Levou-me tantas das pessoas que mais queria. E eu, já agora, quero-me?"

Excertos de "Crónica do hospital", de António Lobo Antunes, publicada no último número da Visão.

Comprem e leiam, sente-se o tremor em todo o texto que não é só do Lobo Antunes, mas de todos os Antónios, Franciscos e Marias que passam pelo mesmo!

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