junho 30, 2007

Desafio (Texto IV)

Eu sentia que havia algo de anormal contigo, apesar de todos que te rodeavam dizer que eram coisas da minha cabeça. Não, não era e pus-me a caminho onde as portas foram abertas. Depois de seis longas horas bem penosas, rodeada por oito médicos, ironicamente 52 vezes picada teria que aguardar pelo veredicto: se o que tinha sido descoberto fosse através do sangue, não haveria nada a fazer, se fosse através das urinas teríamos mulher. Eras tão pequenina, tão indefesa e na saída sentei-me no último degrau de uma escadaria sem fim. Chorei e as minhas lágrimas molharam o teu rosto acalmando o teu gemer já que os teus bracinhos e calcanhares ficaram numa lástima! Apesar de não ter dormido durante quatro dias e quatro noites e agarrada à esperança de que tudo iria dar certo, esperava o alô dos vários contactos que dei. Trabalhei o dobro porque é no trabalho que carrego baterias. Ainda hoje é tão nítido o teu olhar meu amigo: Fatyly telefone...é para ti mulher e ainda hoje sinto o teu abraço por trás enquanto ouvia a frase mais bela que ouvi: venha amanhã de manhã, porque vamos ter MULHER! Desliguei, rodei e foi no teu peito que dei vazão a tanta dor sufocada e em peso a secção, advogados e directores envolveram-me numa bola humana! A família emudeceu porque viram que eu tinha tido razão. Os meus pais foram os únicos que estiveram sempre presentes. Para os exames e vistorias estava no hospital às 6 da manhã e o meu pai era quem ia buscar a neta ao Rossio e a trazia para o infantário. Da boca do pai nunca ouvi uma palavra amiga ou de força, nunca me acompanhou ao hospital, talvez tenha sido a forma que encontrou para o seu sofrimento interior. Nunca soube! Mas para ela ainda hoje o avô é recordado como o pai presente mas ausente que teve. Nunca faltei, mas se entrasse depois das onze, perdia o direito ao subsídio de almoço. Ao meu chefe (já falecido) devo os 15 ou 20 minutos que chegava atrasada. Foram doze anos bem penosos onde a maioria dos exames eram feitos bem perto do hospital, ironicamente no nº. 52. Tudo foi ultrapassado porque eu venci, tu venceste, eles venceram. Hoje, apesar de "baixinha" és linda e a segunda flor mais bela do meu jardim! És o amor do teu amor que é tão alto como alto é o teu sentido de simplicidade ao enfratares a vida.Voltei à rua que tantas vezes foi molhada por lágrimas e parei naquela porta que tão bem conhecia e com a mão pousada na mesma não me contive e chorei de olhos postos sei lá onde. Senti uma mão no meu ombro...desculpe minha senhora...no 52... já ninguém mora!

Texto enviado por: Fatyly

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