Cai o pano:
Maria entra em cena, à procura do filho desaparecido. Ex-prostituta, ou dito da forma mais crua sem florzinhas, como tudo deve ser dito, porque eu acho que sim. Puta é o que a Maria é, ou era. A Maria é uma Ex-puta mergulhada na puta da miséria que é a sua vida, sozinha, porque as putas estão sempre sozinhas, são abandonadas, mesmo quando abrem as pernas para lhes forarem os ovários ou dar umas voltas na boca e terminarem nas mamas, Maria nunca deixa de estar sozinha. Resignada e cheia de ódio contra a sociedade, contra todos. Mãe solteira, tudo faz para dar ao filho, vende em qualquer praça roupas e outras merdas, e se for preciso vende-se a si mesma por poucos escudos, desde que lhe dê para comer, e ao filho, que é uma “cabeça”. A inteligência aos pobres não serve, não fica bem. Chama por João para saber do filho. João é o pai que só a emprenhou porque não gostava de usar a borrachinha, e que nem sequer deu o nome à criança. “Vamos ali a uma velha que trata disso, com agulhas de tricôt, eu dou mil paus, e tu Maria outros mil, demora pouco” Que bom filho da puta me saíste João ! Todos lavam daí as mãos , senão puderem lavar as duas então lavam apenas uma das mãos, o que importa é lavar as mãos de todas as situações, pois claro, e tu lavas as tuas João. Cada um por si, mais nada, a puta da realidade é assim. Imagem marginalizada, linguagem de rua, verdades e comicidades irresistíveis, sobressai a heresia própria da vida, heresia uma merda é o que é, dito da forma que deve ser dito, dito de dor que não serve nem salva, não serve nem salva, não serve nem salva, não serve nem salva. A peça termina com Maria a ir lá para fora à chuva sem que ninguém lhe empreste um guarda-chuva. Emprestar ? Sacar , sacar é o que toda a gente quer, sempre, sempre e sempre...Maria amanhã continuará à procura do filho, sozinha, claro !
Bom fim de semana
(durmam descansadinhos...)
Inté...
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