novembro 30, 2007

Desafio (texto V)

Enviem os vossos textos para:

Meus queridos Filhos

Quando lerem esta carta, é porque, finalmente, vos deixei, é porque morri!
Já velha, mas a cabeça ainda a pensar bem, apesar de sempre cochicharem pensando que já não vos ouço ou não vos percebo, porque bem sei que esses ares paternalistas, querem dizer que pensam que estou surda ou ainda pior que estou senil.

Ah! Os médicos de hoje não usam a palavra senil, os parvos! Preferem a palavra demente.

Mas quem se atreverá a dizer que estou louca? Qual de vocês cheio de ganância absoluta, se atreverá a dizer que estou louca? Quando virem o testamento? Ou já o rasgaram? Chamo-lhe testamento porque são as minhas últimas vontades, mas não foi feito em notário. Já não tinha forças para tanto.

No fundo do cofre encontrarão algumas cartas que guardei como prova de que houve tempos diferentes, em que me amaram. Espero que as deitem fora, porque já nada têm a ver convosco.

Não as leiam, já nem sequer vale a pena, porque onde estão hoje em dia, já não há volta a dar.

Mas no fundo de tudo, por baixo de todos os papéis, deixo-vos a fotografia da minha mão já velha, tão velha, já tão cheia de rugas e de amargura, segurando uma fotografia tirada nos anos da Joana. Deixo-vos essa fotografia, no dia que tu Joana, fizeste 8 anos, em que tu Emílio tinhas 6, em que tu Carlos estavas quase com 4 e que tu Ana já tinhas feito os dois anos.

Deixo-vos essa fotografia, talvez para me justificar, talvez para vos relembrar que fui vossa mãe, que vos amei, que fui eu que de vós cuidei.

O exemplo que dais aos vossos filhos conta mais que qualquer palavra, que qualquer lição, que qualquer ensinamento. Olhem para trás das vossas costas, reparem nos olhares predadores dos vossos filhos, e não vos esqueçais do ditado antigo, tão antigo, mais velho que eu:

Filhos e Filhas sois,
Pais e Mães sereis
Assim como fizerdes
Assim achareis!

Por: Marta

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