"Os homens engendram guerras por uma questão de lucro e de dinheiro, mas combatem nelas por questões de terras e de mulheres. Mais cedo ou mais tarde, as outras causas e motivações diluem-se no sangue derramado e deixam de ter significado. Mais cedo ou mais tarde, a morte e a sobrevivência sufocam os sentidos, Mais cedo ou mais tarde, sobreviver é a única lógica, e morrer é a única voz e a única visão. Então quando os melhores amigos morrem, gritando, e os homens bons enlouquecidos com dor e fúria perdem a cabeça na cova sangrenta, quando toda a integridade e justiça e beleza do mundo são destruídas por braços, pernas e cabeças de irmãos, filhos e pais, então, o que faz os homens continuar a lutar e a morrer, ano após ano, é a vontade de proteger a terra e as mulheres.
Para sabermos que tudo isto é verdade, basta escutá-los nas horas que precedem uma batalha. Falam sobre as suas casas e sobre as mulheres que amam. E sabemos que é verdade quando os vemos morrer. Quando um homem agonizante está próximo da terra, ou deitado na terra, nos últimos instantes procura sempre alcança-la, agarrando um punhado na sua mão, Se puder, erguerá a cabeça para olhar para a montanha, para o vale ou planície. Se estiver longe de casa pensará nela e falará sobre ela. Falará sobre a sua aldeia, ou cidade natal, ou sobre a cidade onde cresceu. No final , a terra assume importância. E, no último momento murmurará ou gritará o nome de uma irmã ou de uma filha ou de uma amante ou da mãe, até mesmo quando disser o nome do seu Deus. O fim reflecte o princípio. No fim, o que existe é uma mulher e uma cidade."
In: "Shantaram" de Gregory David Roberts, pág: 703
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