Tirem-me a vista.
Tirem-me para sempre a luz de Lisboa, tirem-me as encostas do Douro, o Tejo e o Alentejo, tirem-me a calçada dos passeios e os azulejos de parede.
Tirem-me o ouvido.
Tirem-me para sempre o choro da guitarra e o pranto do fadista, tirem-me os pregões das mulheres do bulhão e a pronúncia de norte a sul, tirem-me a fúria de espuma das ondas e o grito do golo.
Tirem-me o tacto.
Tirem-me para sempre o sol de Inverno a bater na cara, tirem-me o barro a ganhar forma entre os dedos, tirem-me o rosto queimado da minha mãe e a mão áspera do meu pai.
Tirem-me tudo isto, mas não me tirem o gosto.
Porque se eu ainda for capaz de saborear a alheira a rebentar de sabor, ou o bacalhau com todos a nadar em azeite, serei capaz de dizer, se não me tirarem a fala, que estou em Portugal.
(Claro que este anúncio muito bem conseguido só faz sentido quando aplicado ao Azeite Gallo, e o vídeo do mesmo, chega rápido ao cérebro, e mais rápido ao coração pelos símbolos que contém. Porque todos, ainda, continuamos a querer ver a luz das cidades, ver os rios o mar e as calçadas portuguesas. Continuar a ouvir a guitarra, as pronúncias, o golo, a fúria das ondas e os pregões deste Portugal. Sentir o sol de Inverno e a chuva de Verão na cara, o barro a nascer entre os dedos, sentir sempre o rosto queimado da mãe e a mão áspera do pai. Continuar a saborear a nossa rica gastronomia. E só com todos os sentidos podemos dizer, se não nos tirarem a fala, que estamos em Portugal.)
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2 comentários:
Aqui está um desafio interessante... Gosto do teu Blogue, principalmente porque também sou adepto do pensamento em wc... sem cheiro. Obrigado pela visita.
Um grande 2008, sem Imodium ou Dimicina! :D
Bom ano!
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