maio 29, 2008

O amargo da derrota é fel

Vi-o. Mas onde? O intenso desejo de me lembrar, impede de me concentrar. Mas porquê querer lembrar-me, se ao mesmo tempo que essa vontade cresce, cresce também em mim uma angústia que não consigo explicar?
O que foi que aconteceu para que prazer e dor se manifestem em simultâneo. O prazer de descobrir onde foi que o vi, junto com a dor de uma recordação que não consigo visualizar, são sentimentos cruéis. Cru é o penar de uma existência cujo sentido não encontro e que me faz sofrer. O mármore com que a entrada é feita distingue-se do cinzento das pedras que a envolve. As torres cilíndricas fazem lembrar troncos de árvores gigantescas, como punais apontados ao céu, um céu também cinzento. A terra que tudo circunda é negra, como à sua volta um luto infinito se manifestasse. E ao luto associa-se a dor. À dor a perda. Se pudesse entrar talvez encontrasse a explicação deste fel que me vem à boca. Mas por mais que caminhe, sinto que estou sempre à mesma distância, no mesmo lugar. Estou cada vez mais exausto. Quero avançar. Quero chegar junto à entrada. Ela permanece lá, como eu que por mais que ande estou sempre no mesmo lugar. Não conseguimos chegar um perto do outro.
Como é amargo o que sinto. A impotência de alcançar o que quero, por mais esforço que faça, deixa-me esgotado, derrotado. O amargo da derrota é fel!
Não consigo subir a encosta, que não é íngreme. É um obstáculo intransponível. E se gritasse? Alguém me iria ouvir? Tenho a boca seca e a garganta a arder, não consigo articular qualquer som. Sinto os olhos a fecharem-se, tenho dificuldade em abri-los. Quero ver, quero falar, mas não consigo. O corpo dói-me, não sinto as pernas e um pequeno formigueiro assalta as outras partes do meu corpo. Não consigo fazer qualquer movimento. Não vou conseguir chegar!
Ah! Agora me lembro. Foi lá que um dia perdi a capacidade de sonhar.
Desafio aceite por Mário C. N. Martins

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