… e depois ele começou a contar-me aquelas histórias de príncipes e princesas e de palácios e castelos, de um pai rico e mercador, das relações com a corte, da amizade feita em criança com os meninos (os príncipes é claro), falou-me até do futuro…
Falava tudo isto com um misto de seriedade e ternura, pleno de entusiasmo, que eu me via vestida de sedas turcas, espartilhos que me transformavam a silhueta numa ninfa inspiradora de bardos e trovadores, via-me como dama de companhia da rainha, sonhava, traiçoeiramente, quiçá em vir a ser concubina do rei. Não me faltariam iguarias que nunca tive, ouro que só via reluzir ao longe na distribuição do pão aos pobres, vestes que deslizavam em corpos esbeltos e aperaltados sempre separadas por um cordão intransponível de soldados de peito metálico. Brincos nas orelhas, pendentes no pescoço.
E quando desatou o nastro que lhe prendia a melena e cofiou o bigode, embora num corpo pouco atlético mas esbelto e convenhamos de considerável argumento, enredei-me numa teia feita de odores em que os âmbares se confundiam com o feno do dossel improvisado.
O cheiro a feno nunca mais me abandonou.
O abastado mercador ofereceu-nos a sua carroça, o copo de cristal é um jarro de lata e o pendente é um corno. E ele é o meu rei.
Desafio aceite por PreDatado
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