setembro 20, 2008

(4ª parte)

Manifesta-se nela um Deus avesso à vida e à alegria que só pretende constranger a poderosa dimensão de uma vida humana, o grande círculo que ela consegue descrever - desde que lhe concedam para tal a liberdade - e apertá-la até que se reduza a um só e contraído ponto de obediência. Amarfanhados pela mágoa e suportando o peso dos pescados, ressequidospela sujeição e pela infâmia da confissão, devemos arrastar-nos até à sepultura, a testa marcada pela cruz de cinza, na esperança mil vezes refutada de uma vida melhor ao seu lado. Mas como é que poderíamos passar melhor ao lado de alguém que antes nos roubou toda a alegria e nos privou de todas as liberdades? E, no entanto, as palavras que Dele vêm e que para Ele se dirigem são de uma sedutora beleza. Como me deixei embriagar por elas à luz das velas do altar! Como me pareceu claro, claro como a luz, que aquelas palavras fossem a medida de todas as coisas! Como achava incompreensível que as pessoas dessem importância a outras palavras, quando cada uma delas só podia segnificar uma condenável dispersão e uma perda da essência! Ainda hoje quando escuto um canto gregoriano; e por um instante irreflectidosinto-me triste porque o antigo arrebatamento deu definitivamente lugar à rebelião. Uma rebelião que se ateou em mim como uma labareda quando, pela primeira vez, ouvi as seguintes palavras: Sacrificium Intelecttus. (continua)

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