outubro 21, 2008

(6ª parte)

Quem é que quer a sério ser imortal? Quem é que deseja viver para toda a eternidade? Como seria entediante e vazio saber que o que hoje acontece, neste mês ou neste ano, não tem qualquer significado. Os dias, os meses e os anos sucedem-se indefinidamente. Infinitamente, no sentido literal da palavra. Se assim fosse, haveria algo que ainda tivesse importância? Não precisaríamos de contar com o tempo, não perderíamos oportunidades, nunca teríamos de nos apressar. O facto de fazermos uma coisa hoje ou deixá-la para amanhã seria indiferente, perfeitamente indiferente. Negligências milhões de vezes repetidas deixariam de ter, perante a perspectiva da eternidade, qualquer relevância, e não faria sentido lamentar algo, pois teríamos sempre tempo para recuperar. Nem sequer poderíamos entregar-nos à simples fruição do dia, pois esse prazer alimenta-se precisamente da consciência da caducidade do tempo, o ocioso é um aventureiro perante a morte, um cruzado contra o ditado da pressa. Se houvesse sempre e em todas as ocasiões tempo para tudo e mais alguma coisa, onde é que haveria ainda espaço para nos alegrarmos com um certo esbanjar do tempo disponível? (continua)

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