março 12, 2009

E eu ali tão perto e tão longe...

Estou acordado enquanto todos dormem, e no entanto estou a dormir enquanto escrevo. E como e bebo, e sinto o frio da noite que me entra pela janela meia aberta. E deambulo pela sala, pelo corredor, pelo quarto. Agora estou sentado no cadeirão aos pés da minha cama a ver-me dormir. O meu corpo ali estendido, relaxado, tão calmo e sereno que quase tenho vontade de me deitar a meu lado. A face deitada sobre a palma de uma das mãos, e a outra mão, estendida, caída, sobre o edredon. Aproximo-me do meu rosto para me ver melhor, para me ouvir melhor, gosto desta calma que aparento, mas noto traços de cansaço e olheiras de insónias, e reparo também em cabelos brancos que nunca tinha visto antes, e leves rugas que não julgava ter. O meu rosto esboçou um sorriso, tenho a impressão de estar a sonhar, e parece-me ser um bom sonho, tento entrar mas não consigo, isto de entrar nos nossos sonhos de forma lúcida não é possível. A suavidade da respiração deixa que sinta o bater ritmado do meu coração como se o mesmo estivesse fora do peito, o bater como um relógio em perfeitas condições; tic-tac tic-tac tic-tac, deixa-me relaxado. Volto a sentar-me no cadeirão aos pés da minha cama, a ver-me ali deitado a dormir numa paz absoluta, longe do desejo e do remorso. Conheço-me melhor quando me vejo assim, a dormir. E eu ali tão perto e tão longe...

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