março 27, 2009

Impulso

Depois de ter entregue a encomenda na morada indicada, num repente, invadiu-lhe o desejo de beijar aquela mulher sem que alguma vez a tivesse visto. A mulher olhou-o franzindo o sobrolho e antes que ele pudesse dizer fosse o que fosse, pôs-lhe as mãos sobre o peito, empurrando-o para fora, fechando a porta de seguida. Ficou ali imóvel, no patamar, a pensar no que teria acontecido. E ainda mal refeito da humilhação, o estafeta desceu as escadas e saiu. A vizinha do lado debruçada no parapeito da janela, sorriu-lhe simpáticamente. Num repente, invadiu-o novamente aquele doloroso desejo de beijar aquela mulher sem que alguma vez a tivesse visto. Aproximou-se. A mulher já sem o sorriso no rosto, olhou-o franzindo o sobrolho e antes que ele pudesse dizer fosse o que fosse, fechou a janela violentamente, enquanto nesse preciso momento dois vasos voavam na sua direcção, aterrando a seus pés. Ficou ali imóvel, no passeio, a olhar para os sapatos cobertos de cacos, terra e flores, a pensar no que teria acontecido. Ainda mal refeito da humilhação, virou-se e seguiu caminho com o desejo.

Sem comentários: