janeiro 17, 2007

20º

Se desse voz às formas que me assomam os sentidos, se lhes tirasse o negrume e deixasse apenas a pele aos gestos descarnados, quem sabe a tela se encheria de uma nova claridade invadida por ecos de audácia. Permaneço no entanto, na margem desta água provisória e sinto nunca ter tocado a alma das coisas; fico-me aqui acariciando esta pedra e tentando adivinhar-lhe o sexo, por entre as nervuras da pele retalhada, como um cego usando todos os sentidos. E quanto mais luz existe, mais cega me sinto frente a este espelho sem vida, que sinto como uma morte sem janelas. Acocoro-me por entre as luzes e busco um sono profundo que nenhum café conseguirá acordar; enterro-me mais ainda no lodo e deixo-me desaparecer lentamente, vou pensando devagar que afinal, talvez a paz seja possível...

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