Mato-te! (Pois se mato em cada dia uma espera.)
Mato-me! (Faço-o em cada espera que adio.)
Mato-nos! (Se não somos corpos geminados, nem raiz à flor da pele, só me resta expungir isto que somos e não somos.)
Mato isto que nos tem. Mato também o que não temos. Mato tudo, gulosa de coisa nenhuma. Mato o desejo. Mato o tempo. Mato o fado. Mato-te matando-me. Mato-nos. Mato a memória. Mato o fim. Mato o início. Mato o meio. Mato tudo de permeio. Mato esta espera desesperada. Mato o não. Mato o sim. Mato o medo. Mato a coragem. Mato tudo. Tudo!
Que adiantava estar aqui, livre, a dar-me por inteiro, se não terraplenasse toda a história? Que adiantava querer renascer se não enterrasse o que foi? Que adiantava querer-te sem ser esta folha rasa de coisa nenhuma, pronta a ser manuscrita de números mínimos e máximos em cada linha, como que tabelada num qualquer auto-de-fé? Que adiantava querer-me sem ser folha em branco? Que adiantava querer-te morto de desencontros, preenchido de intermitências?
Não consigo? Pois já sei… Mas ainda assim mato-me. Mato-te. Mato-nos. E nos teus braços sou criança ainda, no teu corpo sou gestação.
Matei-nos? Não! Renasci-nos...
Resposta ao Desafio por: Hipatia
Sem comentários:
Enviar um comentário