junho 27, 2007

Desafio as Palavras

"No 52...já ninguém mora !"
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Trabalhava na cidade, mas consegui arranjar uma casinha numa aldeia perto. Quando passei por aquela porta, apaixonei-me pela casa. A tia Maria alugou-ma. Adaptei-me bem à vida da Terra. À noite depois do jantar ia ao café, onde se encontravam todos. Foi assim que os fui conhecendo. Aos fins-de-semana, apareciam os que viviam na cidade e lá tinham casa. Já lá vivia há dois anos, quando o conheci. Não me lembro de quem mais estava na mesa. Sei que o vi chegar, mas desliguei de seguida. Era bastante mais novo. Dei por mim a falar com a Margarida e a dar atenção ao tom encantatório daquela voz; mais um pouco e o que dizia começou a interessar-me. Conversámos. Nunca mais deixámos de conversar.
Quando a conheci no café achei-a uma senhora interessante. Mais velha do que eu pr’aí uns dez anos; mal reparou em mim. Mas a meio da conversa despertei-lhe o interesse, não percebi porquê. Começámos a conversar. Nunca mais o deixámos de fazer. Era encantadora. Por ser mais velha tinha uma maneira de estar na vida, diferente de outras. Percebi que se tinha encantado comigo. Gostei de o sentir. Também eu estava encantado com ela. Mas era tão mais velha. A seu lado sentia-me um miúdo.
Durante a semana, telefonava-me todos os dias. Aquela voz encantatória, que me arrepiava, que me fazia sentir parte daquele céu estrelado….Um dia, em que tinha mais pressa e como a conversa ia a meio, acompanhou-me a casa. Percebi que valia a pena deixar-me ir, desde que me não esquecesse que a diferença de idades, provavelmente, não deixaria que durasse muito. Ficariam memórias, para sempre inesquecíveis. Um dia não telefonou. No dia seguinte, também não. Deixei-lhe uma mensagem a perguntar se estava bem, se alguma coisa tinha acontecido. O aperto no coração nunca mais passava, nunca mais me deixava. Pensava eu que me tinha preparado bem para este momento.Tudo se me tornou odioso.
Sem saber bem como, talvez por me sentir tão bem com ela, comecei uma relação que sabia me não levaria a lado nenhum. Quando estava com ela, era feliz, tinha paz. Mas não havia futuro. Um dia deixei de lhe telefonar. Deixou-me uma mensagem. Nada mais do que uma mensagem. Afinal, ela também percebia. Seis meses depois, sem a conseguir esquecer, decidi que tinha de a rever. Precisava dela. Precisava daquela paz. Quando cheguei vi a porta pregada. Alguém que passava disse: Aí, no 52....já ninguém mora!
texto enviado por: Marta

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