No 52...já ninguém mora !
Quando por lá passo afasto os passos, como se me fosse ainda penoso espreitar os dias. Piores as noites, não as primeiras porque dessas ficaram raios de sol e búzios a murmurar segredos ao ouvido. Segredos bons, segredos do prazer aprendido a dois, rendição ao amor descoberto nos gestos novos, nos arrepios da pele sob os lábios inflamados, no gemer contido ainda pela estranheza do sentir.
Quando por lá passo preferia não passar. Não fosse este apelo dos passos a conduzir-me direita ao lugar de todas as coisas e eu fugia, escapava-me por entre a maré de memórias misturadas em azul e negro, os olhos baços perante as luzes intermitentes e ele a pedir-me perdão; e a ter de ir, de mãos presas e olhar assustado. Nada fazia sentido. Nada faz ainda sentido a não ser a impossibilidade da casa ser lar. Agora passo ao largo como se espreitasse não os búzios mas as pedras, as dores do frio das pedras a entranhar-se na memória. Passo de passos largos, a fugir de um aroma que se fez passado, a lembrar o dia em que o levaram dos meus braços; e as lágrimas em silêncio num pedido de desculpa surdo e côncavo.
No 52 já ninguém mora. Lá dentro, aprisionado pela tranca, ficou o amor. Não sei se resistirá ao mofo e ao silêncio.
Texto enviado por: Elipse
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