junho 03, 2008

Duo

- Onde vais?
- Onde queres ir?
- Não sei… escolhe tu.
- Está bem. Mas se escolher eu, não podes ver. Fecha os olhos.
- O quê?- Não podes ver. Fecha os olhos.
- Mas…
- Fecha. Fechou. Por força do cetim, fechou os olhos.
- Não confias em mim?
- Confio.
- Não confias nada.
- Confio!
- Mentes.
- Juro-te.
Ela sabia o caminho. Queria fazê-lo. Sempre quis. Conhecia-o de cor. Era dela. Não queria partilhar o caminho com ninguém. Apenas o destino. O caminho era dela.
- Já chegamos?
- Não sentes nada?
- Não. Estamos lá?
- Penso que sim. Mais um pouco e estamos.
- Então, mas não sabes se chegamos?
- Sei. Sei. Espera.
Não sabia. O caminho não era o que esperava. Demasiado acidentado. Teria chegado? Não sabia. Sentiu-se incomodada. Não devia saber se tinha chegado ou não? Não devia sentir-se? Sempre tinha confiado que assim que chegasse saberia. Olhou-o. Perdido. Ele estava perdido. À espera que o situassem.
- Estás perdida?
- Não… Não sei. Tu estás?
- Confio em ti.
- Não me mintas!
- Estou contigo. Tão perdido quanto tu. Deixa-me abrir os olhos. Ajudo-te.
- Não! Não quero. Eu sei o caminho. Eu sei o caminho.
- Deixa-me ir contigo. Não me leves; deixa-me ir. Eu vou.
- Não…- Deixa.
- Não.
Agarrou-o. Prendeu-o. Sentia medo. Onde estava o destino? Onde? Ela devia saber quando chegasse! Prendeu-o. Não queria estar sozinha no caminho. Não queria. Queria que parasse. Queria parar. Mas não era capaz. Tinha de lhe provar que sabia o que estava a fazer.
- Deixa-me abrir os olhos. Posso ajudar. Ver-te.
- Não. Não quero.
- Podemos ir para onde quiseres. Mas deixa-me ver-te.
- Tu não aguentas.
- Estou aqui, não estou?
- Porque te prendi. Porque te tapei os olhos.
- Porque eu deixei.
- Porque eu quis!
- Porque eu deixei. Deixa-me ver-te. Quero ver.
- Chegamos.
Não tinham saído do lugar. Destapou os olhos. Viu-a. Pequena e menina à frente dele. Abraçou-a. Ela chorou. De olhos fechados. Chorou. Não queria aquele caminho. Apenas o destino. O destino que a abraçava e a fazia sentir-se sem vontade de se mexer. Queria parar. Parou.
- Vejo-te. Não dói, pois não?
- Dói.
Pegou na fita. Enrolou-a e colocou-a no chão. Pegou-lhe na mão.
- Sei um bom caminho para fazermos.
- Sabes?
- Vens?
- Para onde vai esse caminho?
- Onde tu quiseres. Escolhe tu.
- Escolho aqui.
- Então, chegamos.
- Sim. Chegamos. Sinto-o.
Tinham chegado. Sentiam-no.

Desafio aceite po Me

1 comentário:

Ricardo Rayol disse...

Coitado do ceguinho