fevereiro 10, 2009

#2

“Ele, porém, queria gozá-la, sentir-lhe calmamente a textura aveludada da vagina e sentia-se nesse direito enquanto cliente detentor da razão, como sempre acontece – afinal é ele que está a pagar, pelo que revirou-a do avesso e pôs-se em cima dela, de modo a ser ele a controlar o andamento do dueto a seu gosto. Afundou-se então nela com o requinte de quem saboreia uma iguaria rara, primeiro movendo-se lentamente para lá e para cá, depois mais rapidamente até ejacular num extraordinário turbilhão de prazer arfado e dor gritada, findo o qual sucumbiu, derrubando todo o seu peso no corpo dela, exauto e aliviado.” In Invisão, Mário Cunha

Contrastes

Tinha aceitado aquele desafio, afinal desde a primeira vez que soube do mesmo que ficou excitadíssima. A colega falara-lhe na proposta: 500€, um lugar desconhecido, fantasias por cumprir, proibição de pronunciar palavras e como recompensa apenas o prazer que conseguisse retirar do momento.
Receberia as instruções vindas por sms e não deveria parecer-lhe estranho o facto do remetente não ser identificado.
Não tinha muito mais indicações, aliás mesmo mais nenhuma informação. Os dias foram deslizando lentamente pelo tempo. Mais uma manhã que se adivinhava esquecida na proposta que havia aceitado pelo que, levantou-se da cama, tomou banho, espalhou o hidratante pela pele. Vestiu uma sóbria saia preta que lhe definia as curvas, uma blusa branca cujo decote morria junto aos seios provocantemente amparados pela renda escura que se fazia adivinhar e nas pernas as meias de seda presas às ligas do cinto completavam com os sapatos altos que lhe anlaçavam os tornozelos com a fivela sustida nas fantasias por concretizar.
Saiu de casa de cabelo solto, caído nos desejos que sentia na pele, e na face o traço sóbrio dos olhos que se queriam despidos.
Já no carro o som dum sms no telemóvel. No visor um local e a indicação para lá estar dentro de 10mn, remetente desconhecido. E de repente um pulsar galopante tomou conta do seu peito, da sua mente e de todo o seu corpo, fazendo-a chegar ao local pretendido, nos diminutos 10mn que lhe haviam imposto.
Enquanto imobilizava o veículo mais uma mensagem "nº 213, ao fundo do corredor". Olhou em seu redor, nenhuma alma se avistava na acalmia que a rua transmitia.
Passou pelo portão entreaberto que se fechou automaticamente à sua passagem encerrando, do lado de lá, os medos do desconhecido. Agora só sentia tesão, fascínio por aquele lugar, e ao longe avistou um vulto a afastar-se da janela. O perfume forte vindo do jardim mesclou-se com o da sua excitação enquanto entrava e se dirigia para o fundo daquele corredor enorme, quase tão grande quanto o seu desejo e elegantemente decorado.
Uma poltrona e uma mensagem "Senta-te. Põe-te à vontade. Á minha vontade! Faz dos teus dedos os meus, das tuas mãos as minhas. Despe apenas a saia"
A sala estava escura sem no entanto parecer sombria. Largou a mala juntamente com os receios, abandonou o casaco e a saia no chão e aninhou-se na poltrona branca que contrastava com o negro dos seus desejos, com o preto das meias que pareciam querer reter toda a sensualidade daquele momento. Ao fundo da sala, resguardado, adivinha-se um vulto masculino no sofá do canto. No ar a música calma e embriagante deixou-a fluir de si dando início à viagem.
Desapertou a blusa apenas o suficiente para que pudesse acariciar os seios já avolumados, deixou uma mão nos peitos abandonando a outra na suavidade das pernas a caminho de se perder por entre elas. E sentia…
A pele arrepiada, quente,
Os dedos soltos, frios
Os olhares escondidos, ansiosos,
Os fôlegos mais cadentes, os Joelhos trementes e a cada minuto que passava sentia-se mais excitada e ao fundo o mesmo vulto, quase imovel, que a observava a estimular-se.
Seria fácil chegar até ela e apoderar-se do corpo mas de nada lhe serviria a pele se não viesse acompanhada pelo desejo fervente da mente pelo que continuou penosamente a observá-la. Contorceu-se, encolheu-se, sentia-se fogo ao afundar os dedos e os peitos que gritavam pelas suas mãos.
Ao fundo ele já notara a cadência mais ritmada dos dedos sobre o clítoris, o ondular constante da pélvis e na face os sinais evidentes do abandono, da rendição, vindo juntos com as contracções e uns leves gritos que não conseguiu conter quando o orgasmo se apoderou do seu corpo.
Sentia-se demasiado atraída por aquele homem que estivera a observá-la aparentemente calmo. Levantou-se, deixou escorregar a blusa que caiu no soalho e lentamente aproximou-se dele. Passou uma perna pelos seus joelhos, sentou-se virada para ele enquanto lhe deslizava os dedos pela boca dando-lhe a provar o sabor da sua excitação. Desfez-lhe o nó da gravata, desabotoou a camisa e enquanto as bocas se devoravam, desapertou-lhe as calças já sem espaço para o seu sexo latejante.
"Ele, porém, queria gozá-la, sentir-lhe calmamente a textura aveludada da vagina e sentia-se nesse direito enquanto cliente detentor da razão, como sempre acontece – afinal é ele que está a pagar, pelo que revirou-a do avesso e pôs-se em cima dela, de modo a ser ele a controlar o andamento do dueto a seu gosto. Afundou-se então nela com o requinte de quem saboreia uma iguaria rara, primeiro movendo-se lentamente para lá e para cá, depois mais rapidamente até ejacular num extraordinário turbilhão de prazer arfado e dor gritada, findo o qual sucumbiu, derrubando todo o seu peso no corpo dela, exausto e aliviado."




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