janeiro 31, 2007
janeiro 30, 2007
Estas coisas do coração deixam-me assim meio esquisito !!!
Sei que me vieste visitar por que as saudades apertaram, tal como eu faço sempre, tu sabes. Gostamos de estar juntos , sentimo-nos bem, rimos, abraçamo-nos, brincamos, mas nunca, nunca falamos no que nos toca realmente, talvez seja uma defesa, com a qual nos sentimos bem . Gostamos de nos sentir assim, depois vem a despedida mais uma vez, e voltamos a visitar quando as saudades apertam, tu ou eu. Eu sei e tu também que é assim, mas não tocamos nesse assunto. Talvez por não nos querermos perder.
Vou visitar-te quando as saudades apertarem outra vez...num Domingo!
Hás-de ser sempre a minha rapariga das laranjas. ( mas isso, tu não sabes)
Até um cagalhão como eu tem coração !
janeiro 29, 2007
Estive este fim de semana (folga de Domingo, assim é que é) a criar um espaço para guardar as obras do Desafio, para que possam ser apreciadas calmamente, longe do reboliço dos corredores do Ministério. E aproveitei também para limpar alguma sujidade acumulada nas laterais deste espaço, vou continuar o serviço...
Desafio as Palavras
Até já...
janeiro 27, 2007
Pinto as formas da cidade
Desço degraus de lonjura
E choro esta água pura
Espelho nos olhos meus
E terno eco em meu peito...
E sou a pedra, o granito
Que na cidade é suporte
Nesta cidade que ao norte
Dá cor, dá voz e dá vida;
Ó Cidade tão querida
Que dás a todo o negrume
A tela dor dos sentidos
A emoldurar a morte
E tua pele e a sorte
Na audácia de tantos gestos
Pinto retalhos funestos
Pelos tempos mais doridos...
Pinto as formas da cidade
Falo abrindo o seu sexo
E o quadro é desconexo
Se não tiver o aconchego
Do bulício do café...
E ao entrar nesta pintura
Paisagem do meu apego
Sinto o calor e a doçura
Da alegria e da amargura
Da vida, como ela é!...
Por: Maria Mamede
janeiro 26, 2007
janeiro 25, 2007
Seguir o eco de antigas vidas, ouvir a voz da consciência, não só a dos sentidos, sem temer o negrume da noite ou o da morte.
janeiro 23, 2007
FORMAS, DEGRAUS, ÁGUA, ESPELHO, SEXO, MORTE, PELE, ECO, RETALHOS, AUDÁCIA, TELA, NEGRUME, CAFÉ, GESTOS, NORTE, VOZ, VIDA, PEDRA, SENTIDOS.
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tozribeiro@gmail.com
(Textos enviados)
Sentados nos degraus
Sentados nos degraus deixámos a água da chuva encharcar-nos.
No negrume da noite a água que escorria empoçava na pedra gasta da escadaria, semelhando tela, ou espelho onde a vida se reflectia.
Tudo nela passava formas – corpos em movimento – seus gestos de proximidade e ternura, breves retalhos de expressões dos sentidos e quando, na água empoçada, uma vibração corria, sabíamos corresponder ao eco da inicial emoção na pele.
Resposta à voz amada, ao prazer do sexo, ao temor da vida ou da morte.
Os nossos corpos molhados aproximaram-se mais buscando o calor que deles fugia com a água que por eles escorria. E eis que mais uma vez me surpreendes, da mochila tiraste pequeno termos e um gole de café quente aqueceu-nos até à alma. Só nos faltava o derradeiro golpe de asa. A audácia de seguir sempre o rumo buscando, da vida o sentido, norte.
Estranha a audácia dos sentidos que correm soltos, livres, sem norte. Com as mãos percorre a pele feita de água, os gestos tomam formas diferentes, ousadas. Dá eco a desejos desconhecidos, transformando o corpo em espelho e tela pintada. Protegendo-se do negrume da noite, vestindo apenas de retalhos, é naqueles degraus de pedra, que vende o sexo, a vida, a voz e compra a morte a troco de um café.
janeiro 22, 2007
Sopa de letras
Peguei em duas FORMAS para fazer um bolo de camadas. Juntei ovos e açúcar e fiz os GESTOS habituais para bater o bolo. Juntei CAFÉ com um NEGRUME africano e farinha, e voltei a bater até só ouvir o ECO da batedeira. Bebi um copo de água das PEDRAS para me dar VIDA. Ouvi a VOZ dos meus filhos, que subiam os DEGRAUS. É preciso AUDÁCIA, dizia a Inês, para pintar uma TELA daquele tamanho. Continuei com o bolo. Juntei fermento, bati as claras em castelo e misturei tudo. Coloquei nas formas, que levei ao forno. Queimei a PELE da mão e disse um palavrão, não fosse eu uma mulher do NORTE. Ao fim de 1/2 hora, peguei em 2 RETALHOS de pano e tirei as formas do forno. O cheirinho era de fazer perder os SENTIDOS. Deixei arrefecer. Ao passar em frente do ESPELHO, olhei e pensei: estás gorda gorda e vais comer bolo? Vou, claro, só a MORTE me impedirá de comer uma fatia. Ou duas...
janeiro 20, 2007
Vês este sofá vazio?
De sem sentidos acordei. Morri? Não, a morte não pode chegar assim indolorosamente silenciosa. Simplesmente estava a dormir que nem uma pedra, fugido dos retalhos da vida, preso no negrume da consciência sem norte, vida sem audácia, gestos rotineiros do dia a dia, como uma tela pendurada numa parede branca em que todos os dias se olha e não se vê com olhos de ver, não se admira a forma, não se tem o eco de quem a pintou.Acordei com a mesma pele, admirei-me ao espelho, fiz gestos rápidos na vã esperança que o reflexo fosse mais lento. Acordei apenas de um sono profundo. Bebi um café, pensei em sexo e subi os degraus numa corrida desenfreada.
janeiro 19, 2007
Desperto na tua audácia. Os meus sentidos buscam o
Sentei-me com a respiração ofegante sobre os degraus do muro que me impedia a passagem para o outro lado. Caminhava há mais de uma hora perdida em pensamentos que não conseguia ordenar. Sentia a solidão pesar-me nos ombros curvados, apesar das ideias que me inundavam, da dor que não conseguia apagar. O dia começava a ganhar uma forma própria nos primeiros raios de sol que queimavam as ervas que calquei, nos sons que abafavam os murmúrios que a noite cantou, no céu que perdeu o negrume iluminado pelo dourado das estrelas. Ao longe um vulto deixou marcado no chão de pedra uma sombra pesada que se afastava sem olhar. Sabia que o cansaço dorido que o empurrava passo a passo não lhe permitiria levantar o olhar sombrio para uma viajante da noite, senti que a sua solidão era tão grande como a minha, por isso não iria interromper as dores que procurava abafar na audácia de uma caminhada sem norte ou destino traçado. Retalhos de mim desenhavam-se na tela pintada no espelho que aquele corpo me deixava antever e soube também que ainda não estava suficientemente longe dos meus pesadelos para poder conviver com eles. O seu eco persistia em vestir a minha pele, moldava formas de fantasmas que enganavam os meus sentidos e teimavam em habitar as lembranças perdidas no sótão da vida, com gestos de ardor e prazer que se confundiam com a tua voz cristalina como a água mais pura em que desfrutavas o doce sabor do meu sexo que floria para ti. E com um café frio, esquecido entre os dedos trémulos, acariciavas o meu corpo com um olhar quente de desejo. Fingia dormir para que me aquecesses com a volúpia que adivinhava na respiração ofegante que humedecia o quarto. Sorriste…adivinhaste o tremor que me percorreu o corpo e cobriste-o para que essa noite não tivesse fim. Abandonei a humidade refrescante do muro coberto de um musgo de verde pleno e calquei a minha sombra ténue cujo traçado se adivinhava na noite que se despedia deixando a memória de uma outra noite. A distância entre elas era vencida ao som de um silêncio reconfortante. Procurava o meu destino num destino desconhecido. Quando o sol conquistou metade do céu e queimou o pouco que restava das minhas forças encostei-me a um tronco velho e gasto em forma de saudade. Entrelacei os braços em torno dos sentimentos de seca desolação que transmitia e ouvi o queixume e o choro de abandono. A sabedoria dos seus anos e a beleza de um tronco estéril não eram um convite à permanência. Novas árvores floriam e colhiam apaixonados olhares de admiração. Em sintonia na dor, apontei para a flor amarela que florescia a seus pés, adornei a concha oca do seu tronco com um sussurro de esperança: “Juntos vencemos a morte que outros nos ofereceram”.
Os corpos eram deixados nos degraus duma soleira dum qualquer café, com as suas formas carnudas, redondas e desnudadas totalmente visíveis. Sexo parecia ser o móbil do crime. As vítimas, todas elas do sexo masculino, apresentavam arranhões no peito, marcas vermelhas nos pulsos e escoriações nas costas e nas nádegas. O corpo de cada uma das vítimas, espelho de atrocidades homossexuais, era também a tela de pele nua onde o violador decalcava com marcador a sua marca: o desenho de uma mão grande, com dedos longos, capaz de gestos íntimos e assassinos. A audácia deste ser não terminava aqui. A roupa dos alvos a quem tirava a vida era cuidadosamente colocada ao lado destes, em retalhos, com uma pedra por cima. Não havia quaisquer vestígios de sangue nem nas vítimas nem nas suas roupas. Sabia-se apenas uma coisa: ele atacava quando as noites eram invadidas pela água que jorrava torrencialmente já há um mês. E hoje era uma dessas noites e a sua casa parecia-lhe tão longe…
Haverá outras formas de chegar a ti? Não me apetece alcançar-te em degraus, pisar na água, ver-me ao espelho, ou sequer ter apenas sexo nem que prometido até à morte. Deixa-me tocar na tua pele, ouvir o teu eco, pegar nos teus retalhos, juntar à tua audácia e fazíamos uma tela sem ponta de negrume! Café? A esta hora? Não percebo a tua ideia! Estava tão poética… Bem, continuando, não me leves a mal, são gestos sem norte, em voz alta, vida banal, como pedra firme e quieta, não te preenche os sentidos, pois não?
janeiro 18, 2007
reflectidos na água
que dos olhos escorre –
feita espelho
de incontida dor –
e desliza na pele
cavando
profundos sulcos _
quase vales _
como se pedras
em desenfreada avalanche
onde o eco
das palavras persiste,
a ferir de morte.
*
A vida perdeu sentido e cor.
Triste tela
onde o negrume impera
e os sentidos, perdidos,
não encontram o norte.
*
De tua voz
as duras palavras –
eco de desamor,
corpo sem formas –
murmuradas, mansas,
como se de amor,
ao redor da chávena do matinal café
sugaram-me força e vontade.
*
O esventrado corpo meu,
retalhos
de alma esvaída, jaz
algures, em longínquos
perdidos degraus da vida.
*
Tão mansa a tua fala
ao redor da mesa
do matinal café
quando disseste: “nunca te amei!
Era só sexo, e cansei”.
*
O esventrado corpo meu,
e a retalhada alma -
cacos nos degraus –
aguardam redentora chuva
que os faça erguer e
continuar a viver
vida plena,
cheia de audácia.
Todas as formas que a saudade veste, os retalhos da vida que ela vai buscar, os gestos, os medos, chegam até mim, como se os arrancasse à tela. Passei de lado, atrás das colunas, adivinhando algo que me trouxesse o eco da tua morte. Mas depois um esgar. E era um espelho. Os degraus que subi, um a um, eram já uma ponte. Ouvi água correr em todas as direcções. E talvez a tua voz.Estou diante da tela. E então sei que por um momento, por um prolongado momento, os teus sentidos se amotinaram, quebraram a pedra que te deu consistência e norte e que, afastado o negrume, libertaste gota a gota a pele que cheirei e toquei. Respiro-te e naquele canto onde pintaste a mancha castanha, há um odor a café e torradas pela manhã. Ali, à direita, os traços cruzam-se e suas raiva e trabalho. Mas aqui, frente ao meu peito, sabes a sexo e sussuros. Voltei-me. Marca-me sempre a audácia que nunca tive. para rasgar-te todo.
Sempre que vou ter contigo, a água fria nos meus pés, apura-me os sentidos para aquilo que és para mim. Grito a plenos pulmões e a minha voz provoca um eco que se prolonga até ao infinito. Se me disseres que a minha pele é macia e que os meus gestos são quentes então poderei dizer que és o meu Norte e é para lá que viajarei. Quando lá chegar terei a audácia de recolher os retalhos de fotografias nos degraus que me levarão a ti? Daqui, todas asformas que são familiares ficam distorcidas perante o espelho da minha vida. Prefiro, por agora, atirar uma pedra à tela onde o negrume dos teus olhos são a morte para os meus dias. Para quê discutir o sexo dos anjos quando oque preciso é de um café para acordar deste sonho?
Nos DEGRAUS permanecia uma ÁGUA fria que em baixo se resolvia em charco, um ESPELHO gelado sem SEXO nem magia. Uma cor baça, de MORTE, marcara-lhe na PELE o ECO dos RETALHOS de AUDÁCIA que agora, pintados na TELA de uma alegria dissipada pelo NEGRUME da memória de outros encontros, mais pareciam espectros de outra história e ali, naquele CAFÉ frio, o sabor azedo da pergunta, feita de GESTOS sem fundo, de medo, fez-lhe finalmente perder o NORTE; e a VOZ com que apelava à VIDA, fingida PEDRA de toque, em muitos SENTIDOS foi voz de despedida.
Por: Pirata-vermelho
janeiro 17, 2007
Se desse voz às formas que me assomam os sentidos, se lhes tirasse o negrume e deixasse apenas a pele aos gestos descarnados, quem sabe a tela se encheria de uma nova claridade invadida por ecos de audácia. Permaneço no entanto, na margem desta água provisória e sinto nunca ter tocado a alma das coisas; fico-me aqui acariciando esta pedra e tentando adivinhar-lhe o sexo, por entre as nervuras da pele retalhada, como um cego usando todos os sentidos. E quanto mais luz existe, mais cega me sinto frente a este espelho sem vida, que sinto como uma morte sem janelas. Acocoro-me por entre as luzes e busco um sono profundo que nenhum café conseguirá acordar; enterro-me mais ainda no lodo e deixo-me desaparecer lentamente, vou pensando devagar que afinal, talvez a paz seja possível...
Qualquer coisa me aguçou os sentidos, uma pedra? Parece ter vida, como se uma voz saísse dela. Virei-me para Norte, fiz gestos às pessoas que estavam no café mas aparentemente ninguém me viu, talvez pelo negrume da noite que começava. Parecia uma tela de Chagal, havia ali qualquer coisa de belo e desconcertante. Teria eu a audácia de tentar juntar os retalhos ou, se tentasse, ficaria apenas o registo de um eco, muito aquém daquela estranheza sentida na pele. A pedra parecia encerrar tudo sobrre a vida e a morte, sobre as relações, sobre o sexo, sobre o sofrimento e a estética, era como um espelho em que se pode rever cada pensamento. Estremeci ao ver-me, transparente como a água, ali, no meio do nada! Quando acordei percebi que tinha adormecido ali nos degraus . Quisera eu saber as formas dos sonhos!
Perdi-me, doidamente, naquele corpo de angulosas formas. Na sua boca meu norte, no seu peito meu centro, no seu sexo meu equilíbrio. A audácia com que em mim se roçava , despertando desejos infinitos, espicaçando os meus sentidos, beijando minha pele. Se pudesse ter pintado numa tela os retalhos de uma vida que corria rápida como água através de degraus de pedra, teria gravado da sua voz o eco , da sua boca o sabor, das sua mãos os gestos, do seu corpo os cambiantes, dos seus gostos o café. Frente ao espelho, desvairada, olho-me a ver se encontro na face o negrume que me vai na alma. A morte arrebatou-mo. Já nada mais quero.
(Dado que a Lingua Portuguesa é feita de provérbios, resolvi aceitar o desafio do Ministério da Soltura e deixo-vos alguns exemplos da nossa rica Língua ... )
"Em política, uns são alpinistas, outros DEGRAUS ...!"
"Quem não quer ser lobo, não lhe veste a PELE !"
"Família cresceu, ECOnomia em casa ...!"
"Sem AUDÁCIA não há fortuna ...!"
"Antes cauTELA que arrependimento"
"Amigo remendado, CAFÉ requentado!"
"VENTO NORTE, três dias forte"
"Enquanto há VIDA, há esperança ...!"
"A vingança é uma PEDRA que se volta contra quem a atira ...!"
"A amizade é um amor que não se comunica pelos SENTIDOS ...!"
janeiro 16, 2007
Contém múltiplas FORMAS
Olha pela janela, para o negrume da noite e deixa-se ficar ali, a testa encostada ao vidro, imerso em pensamentos. Será que ela adivinha as emoções que lhe provoca? Será que conseguirá dela um eco relativamente ao que sente? Ou será que, como parece, para ela é só alguém suficientemente interessante para uma noite de sexo? Esta última hipótese provoca-lhe um aperto no estômago. Abana a cabeça, não se reconhecendo. Pois não era apenas isso que sempre desejou das mulheres com quem se cruzou na vida? Dirige-se à cozinha, põe água na máquina e prepara um café, que acaba por ficar a arrefecer, esquecido sobre a mesa. A ironia da situação fá-lo esboçar um sorriso triste. Ele, a quem tantas vezes chamaram desprendido, indiferente, frio, distante, está agora a provar do seu próprio remédio. Ele, que julgava ter uma pedra no lugar do coração, o hiper racional, vê-se agora enleado nas teias da paixão não retribuída e a sentir um frio de morte a invadir-lhe a alma. Ainda lhe sente o cheiro e recorda, absorto, o som da sua voz cálida, os seus gestos, o calor da sua pele, a excitação que lhe provocou a audácia com que ela procurou o prazer. Há muito tempo que ninguém era capaz de lhe estimular assim os sentidos, não apenas no sexo, mas de todas as formas possíveis e imaginárias, ao ponto de o fazer perder o norte. A perspectiva de ter finalmente encontrado a mulher que nem sabia que desejava, é como uma tela cheia de cor e vivacidade, uma pintura belíssima com que anseia preencher uma vida demasiado solitária. Porque será que o amor é tantas vezes sinónimo de dor? Olha-se ao espelho, reparando nos olhos cansados, nas rugas vincadas… É tarde, precisa tentar descansar. Sobe os degraus, dirige-se ao quarto e estende-se na cama, ainda vestido, puxando para cima de si a velha manta de retalhos que foi da sua avó. Antes de adormecer sente-se invadir pela doçura que lhe transmite a ideia de uma vida a dois.
Por: Antídoto
A vida
Olho-me ao espelho
Todos os dias.
Prolongo esse olhar
pensando na vida.
Numa vida sem norte
sem rumo e sem sentidos.
Por vezes, penso na morte e,
em como ela é, por vezes, apelativa,
pela paz que parece prometer.
São os retalhos que sobraram.
pedaços de momentos e memórias,
que ora se avivam ora se esbatem,
que alimentam uma luta interior permanente
Às vezes parece-me
que já consigo erguer-me
e subir alguns degraus.
Outras,
Sinto saudades da voz,
do cheiro da pele e do sexo.
E volto a cair num negrume,
onde não se vislumbra qualquer luz.
Dizem-me que complico.
Que a vida é mais simples.
Tão simples como a água e
que, tal como ela
nos podemos adaptar
e tomar várias formas.
Mas o eco do passado
Persegue-me.
Não me larga.
Falta-me a coragem,
a determinação, a audácia
para seguir em frente.
Estagnei.
Não consigo mover-me
Sinto-me uma pedra parada no tempo.
Incapaz de gestos
Incapaz de preparar uma simples chávena de café.
Incapaz de pegar nos pincéis e criar algo
como fazia
e colorir uma tela
com cores vivas e alegres,
como a vida deveria ser.
janeiro 15, 2007
(Textos enviados)
Dezanove
FORMAS com as tuas mãos uma escada com
DEGRAUS que levam o pensamento ao rio onde a
ÁGUA em que se lava o teu reflexo é o
ESPELHO de um rosto em que brilha o desejo de
SEXO de anjo que ilude o fim desafiando a
MORTE e o poder e a vida à flor da
PELE que encobre o sentido da voz chegada em
ECO mudo de vibrações carregando a saudade em
RETALHOS dominados por intenções equívocas de
AUDÁCIA como aquelas que deixaste veementes na
TELA quando com os teus pincéis alegres substituías o
NEGRUME translúcido do medo por cenas vivas de
CAFÉ concerto com dançarinas inebriadas de
GESTOS sob a frieza cortante do vento
NORTE e eu sentado à espera que a
VOZ te não doa e a ligeira doçura da
VIDA se erga violenta e decidida contra a
PEDRA gasta de uma muralha apoiada nos
SENTIDOS proibidos do tempo em que
FORMAS com as tuas mãos uma escada com
Naquele dia, naquele sítio, àquela hora, gritei com a audácia da felicidade a transpirar de mim, e ali fiquei à espera do meu eco, na esperança que a minha própria voz me encontrasse e me reconhecesse a transformação. Ali fiquei estendida naquela pedra alta, sentindo húmido o meu sexo ao pensar no café da manhã tomado na cama, atrapalhando-me os sentidos ao quase voltar a sentir a pele dele roçando a minha. As imagens surgiam em catadupa, formando uma manta de retalhos, primeiro as formas, depois os gestos, por fim o espelho que reflectia as nossas enlouquecidas provas de amor, uma atrás da outra. O som persistente de água a correr despertou-me o espírito do limbo em que me encontrava, e foi então que o meu eco veio até mim desvanecendo a imagem de felicidade que me ficara. Naquele dia, naquele sítio, àquela hora, muito depois de termos feito amor apaixonadamente, a água corria degraus abaixo em direcção à sala, e a tela que tinha começado pintar estava desfeita em mil pedaços. Senti o olhar frio da morte cravado no meu ser translúcido. Quando vi o meu corpo, um negrume inundou-me a vista e tirou-me o Norte... Uma mordaça impedira-me de gritar enquanto a faca grande, de cabo vermelho, assinalava o sítio exacto onde me fora roubada a vida!
Surgiste, sem se saber de onde, acontecida no negrume da noite, pintada pela audácia do sonho, na tela da minha memória. Porque estava só, inventei-te, como eco e espelho de mim próprio, na voz dos sentidos acordados na insónia, uma pedra no charco desta renúncia.
Por isso, vieste sem gestos, sem formas definidas, retalhos subindo, pouco a pouco, os degraus
E tão subitamente como apareceste, assim te desvaneceste, apagada como a espuma do mar que, por ser apenas água, não dura mais do que breves segundos.
Por: Peciscas
Quando o eco das palavras
janeiro 13, 2007
8º
Doces Horas
O sexo dele aponta agora a Norte, fazendo eco dos retalhos de desejo partilhado e das formas exóticas que os gestos dela têm sempre para lhe despertar os sentidos. Ela brinca e ri, excitada, meia despida pelos dedos convulsos dele, coquete e feminina. Brinca com o corpo dele, brinca com o próprio corpo, aproxima-se e afasta-se... E por cada novo jogo, pela antevisão da audácia dela ao fazê-lo quase sofrer pela espera, ele sente o sangue correr acelerado, como a água das cheias de Inverno a galopar por entre o negrume da terra antes ressequida. A pele dela, branca como uma tela ainda virgem, parece pedir que os dedos, a boca, a língua dele, a preencham de cores quentes e de suor. E ele tem cada vez mais urgência naquela petit mort prometida, aquela morte santa de onde renasce cheio de vida. O espelho do quarto devolve-lhe a visão dos dois corpos entrelaçados e o gume erguido do seu pénis endurecido, pedra agora, polvilhado de pequenas pérolas opalinas. E sente que o vício de tê-la não está ainda saciado e, logo pela manhã para que o dia amanheça radioso, esperará que aquela voz sussurrada lhe marque o encontro, como de costume, nos degraus do coreto do meio do jardim onde um dia marcaram o primeiro encontro para um simples café sem açúcar. E as horas anunciadas são doces assim…
Por: Hipatia
No acto ganha FORMAS,
Ponho nela o esquecimento de quem já não se vê nas águas turvas deste espelho, de quem vai perdendo o norte à vida e à plenitude das suas formas, esquecendo ao mesmo tempo os ecos da sua pele e a memória esmorecida do sexo sem angústia.
Pinto em degraus todos os passos sem audácia, todos os gestos perdidos e regresso de súbito à mesa de café, onde descansa taciturna a chávena vazia...
Na tua ausência os dias passam e deixam um vazio. Como se fossem retalhos de uma manta, ou fragmentos de uma tela, e não consigo colar, ao fim do dia, as horas que são retalhos e fica o dia incompleto.
Sinto-me tão triste que me sento nos degraus da escada junto à nossa porta, a pensar na minha vida, e o teu amigo António, que decidiu não voltar ao Norte e tentar a sorte aqui, diz-me:
- Ele não te quer assim triste, anda vamos beber um café.
E eu vou porque sei como vocês são amigos, e porque ele me faz lembrar de ti. Tem gestos tão parecidos com os teus, como o pegar na chávena e não na asa, para beber e ao mesmo tempo sentir o calor do café, e falamos os dois de ti e de mim e como o espelho me diz que estou mais gorda, e ele não que não, que não é verdade ainda.
E ontem perguntou-me se já te tinha contado o que aconteceu há dois meses, quando ele me salvou de morte certa ou coisa pior ainda, e não contei porque ainda fico a tremer e quase perco os sentidos e a caneta só de pensar nisso, por isso não te contei nada antes. Foi num dia que fui com a Irene, às compras, depois do trabalho, e quando chegava a casa e subia devagar a escada, porque me sinto mais pesada, a luz apagou-se quando eu estava entre o 1º e o 2º andar, e tudo ficou tão escuro que tive medo de dar um passo em frente ou de voltar atrás.
E o negrume na escada era o espelho do meu medo, e toldava-me os gestos, e fiquei parada, colada á pedra do degrau que pisava, perscrutando o escuro, aterrorizada.
De repente a luz acendeu-se, ou recuperei os sentidos, e vi o António descomposto de raiva a dizer,- Bandidos. A audácia. E na luz as nossas vozes fizeram eco, a minha e a do António, e desceram a casa da porteira que me viu tão desfalecida que foi buscar um copo de água, e disse: - A menina está bem? E o António que sim, que eu me tinha assustado e caído por isso estava assim com a roupa amarrotada e a blusa aberta…Se não fosse o António, meu querido, quem sabe tinham-me estropiado como naqueles filmes de terror que eu gosto tanto de ver.E nunca mais saberias nada de mim, nem porque estou mais gorda, nem que fiz um teste que diz que vais ser pai. O António manda-te um grande abraço. Se não fosse ele não sei que seria de mim aqui sozinha há dez meses, tão triste sem ti e desamparada sem ti.
janeiro 11, 2007
Era o que faltava era dar-te trunfos assim estampados na tela.
Não, não mudei de formas; apenas fugi da morte.
Conservo o espelho para relembrar o tom da minha pele
E se olhar bem no fundo dos gestos
Nada mais vejo senão o eco dos retalhos da má sorte.
Por isso recuso esse negrume,
Recuso a tua voz, a pedra que a tua mão guarda dia e noite,
Mesmo nas noites em que o sexo nos ligou à vida.
Coisa pouca, digo agora, e parto em busca de ouros sentidos,
Rumo aos degraus que me levam à superfície de uma água pura.
Audácia extrema este desejo de me espelhar em mim.
Venha o café! Não quero ficar assim.
Parei nas escadas
Pensei em ti
E no cheiro a sexo
Que ainda está em mim...
Contigo perco o Norte
Adoro-te de todas as formas
Olho-me ao espelho
Ajeito a roupa e suspiro
Sinto-te
Fecho os olhos...
Sinto o teu sexo a penetrar-me
A tua pele na minha pele
O eco dos gemidos
A voz rouca
A nossa audácia junta...
A água a escorrer pelo meu corpo
No banho que tomámos
Vislumbro esta tela
Como se de um filme tratasse
Por momentos esqueço os retalhos de uma vida...
Entro e sento-me
Peço um café
Olho para o seu negrume tom
Todos os meu sentidos vivem
A morte não é para mim
janeiro 08, 2007
Tirem-lhes as meias e lavem-nas numa bacia cheia de água fria com um sabonete perfumado (de preferência a cheirar a violetas). Depois enxuguem-nas. Metam numa panela uma boa porção de manteiga, deixem-na derreter a fogo lento e em seguida coloquem as coxas de menina por cima, depois de tê-las salteado. Acrescentem um púcaro de leite. Mexam tudo bem mexido e temperem com sal, pimenta, salsa, cebola picada, alho, pimentos moídos. Espevitem um pouco o lume e ao fim de uma hora tirem a panela do fogão e deitem o conteúdo para dentro das meias. Sirvam bem quente, com as meias suspensas do tecto por elásticos. É um prato muito alegre, bom para saborear entre amigos. As pernas sobem e descem por cima da mesa, e tentar apanhá-las depressa se torna um jogo. Mas atenção às nódoas suspeitas na roupa!
Roland Torpor, in A Cozinha Canibal
janeiro 04, 2007
Ninguém diz nada de novo
Ouço-te sempre as mesmas palavras
Ouço-me sempre as mesmas palavras
Podia contar-te como vão as coisas por aqui...
Mas não há nada de novo!
Nada de novo sob este céu
Nem as nuvens se espantam !
Olho ao redor, e o que vejo ?
Nada de novo !
Hoje foi o costume...
Nada de novo !
Hoje não há nada de novo...
Amanhã direi o mesmo !